domingo, 28 de novembro de 2010

Em busca de uma paz desconhecida

No dia 13 de Maio de 1888 um fato histórico foi comemorado em todo o Brasil, este fato então revelou aos brasileiros uma mudança grandiosa: agora não mais seríamos uma sociedade escravista, os negros não viveriam mais sob o julgo dos capatazes. Mudamos, a partir daí, uma questão fundamental, a questão da liberdade para quem até então era visto como ser humano de segunda categoria e unicamente viável como força de trabalho duro. Prometemos uma nova sociedade, baseada no mérito e na força de vontade, uma sociedade que exigiria deveres, mas que agora daria direitos para todos. Esse foi o sonho da República, assim nossos líderes receberam um novo século, cheios de otimismo e bem-aventuranças. Mas o que se viu não foi exatamente algo assim tão justo, os negros ex-escravizados tiveram que migrar das senzalas para os morros, construindo suas casas com aquilo que lhes era possível. Tiveram que continuar fazendo o trabalho pesado, sem ter acesso às melhorias do novo sistema. Foi assim, de forma resumida, que se constituíram as favelas em todo o Brasil, e no Rio milhares de pessoas foram empurradas morro a cima no intuito de esconder os frutos de uma sociedade desigual. Enquanto o requinte e a ostentação divulgavam mundialmente a cidade maravilhosa, uma massa de anônimos a transformava numa cidade perigosa.

Assim os morros cariocas se tornaram a prova mais cabal da indiferença nacional para com os pobres, e o governo, de forma hipócrita, prometeu novamente o que a República deveria ter realizado cem anos atrás: o respeito pela vida humana, a inclusão e a igualdade. O que ensinaram, no entanto, foi o contrário, ensinaram que quem vivia ali não seria respeitado, mas sim julgado como a escória da sociedade por aqueles que se sentiam incomodados em dividir a paisagem da baía de Guanabara com seres indesejados. O racismo inerente a essas relações, a indiferença e o descaso foram o combustível para o nascimento de uma grande quantidade de inimigos da paz, que por sinal nunca existiu. Formou-se então um exército que se valeu do tráfico de drogas para conquistar aquilo que a televisão propagou como felicidade. Este exército anti-social passou a ser o outro lado da moeda, o lado B da elite mau caráter herdeira de senhores de escravos. E agora vemos em alta definição o desenrolar de um problema histórico descrito como a busca da paz, uma paz tão longínqua que deveríamos ter vergonha em pronunciá-la. Vergonha é o que também deveríamos sentir ao hastear nossa bandeira num lugar que contradiz completamente a frase “ordem e progresso”. A paz que se busca através do sangue nunca será uma realidade, enquanto não reconhecermos nossas mazelas como fruto de nossa história e não da simples maldade do povo, continuaremos sendo reféns de nossa própria ignorância e falta de compaixão. Vamos continuar a nos esconder atrás de cercas eletrificadas e esperar que grupos fortemente armados nos entreguem a paz com que tanto sonhamos, sem jamais acordar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nada como viajar


Nada melhor que viajar, sair do lugar, levar a alma pra passear. Perceber o vento soprar e a janela mostrar que já não se respira o mesmo ar. Observar no retrovisor a distância aumentar. Sentir o joelho latejar, pedir pra parar e ver o carro esquentar. Abastecer e pagar, reclamar, brigar com quem vai ao lado a fumar. Nada como viajar, e na hora de chegar olhar a paisagem convidar. Mergulhar os olhos e fotografar. Caminhar, carregar o peso da mochila sem reclamar e de corpo e alma vivenciar um novo lugar onde sempre se sonhou estar. Desestressar? Nem preciso falar! A melhor coisa é absorver novas energias e recarregar. Tranquilidade é estar sem hora pra chegar e nem compromisso pra firmar. Lamentar, só na hora de voltar, mas ainda assim se lembrar que o regresso é essencial para aventura se completar. Uma viagem sempre vai modificar, sempre vai marcar, pois a experiência é mil vezes mais valiosa do que o dinheiro que se economizou para gastar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Uma possibilidade a mais

Muito se fala em igualdade entre os homens e mulheres, igualdade de direitos, de possibilidades, igualdade de deveres, de comprometimento. Realmente, a busca da igualdade é o mais importante desafio em que a humanidade está inserida, e o mais difícil. No entanto, ela não exclui a diferença, pois o seu contrário é a desigualdade. Esta ocorre quando homens e mulheres passam a ser hierarquizados e classificados, não de acordo com méritos ou aptidões, mas sim de acordo com privilégios ou benefícios, é uma questão de poder e segregação baseada numa suposta superioridade. Já entre iguais a diferença é o sustento da capacidade de suportar. É preciso enxergar no outro um contraponto, uma possibilidade a mais. Não basta sermos iguais, necessitamos também da diferença. Sem ela nos transformaríamos em autômatos, seres padronizados sem possibilidades de trocas e aprendizados. As nossas diferenças não podem ser subestimadas, elas são aquilo que nos enriquece mutuamente e nos faz sentir indivíduos dentro dessa imensa coletividade.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Drogados de poder

Quando falamos sobre drogas, geralmente o que nos vem à cabeça são tipos estereotipados como maconheiros lesados, ou quem sabe aqueles alucinados com o nariz branco, ou até mesmo fritos mordendo garrafas plásticas com os olhos esbugalhados ao som do trance. Nossa visão sobre o tema parece reduzir-se a situações onde o “drogado” é sempre alguém que consumiu alguma substância para atingir este estado anormal da consciência e de prazer momentâneo. O que poucas vezes percebemos é que não são apenas essas tais substâncias psicoativas ou alucinógenas que tem o poder de gerar níveis de prazer e alegria artificiais e, principalmente, viciantes. Observando a forma como políticos e jogadores de futebol se portam diante de situações de adrenalina, podemos perceber o quanto o poder – no sentido de autoridade, influência, soberania – é capaz de transformar as pessoas.

Observe bem um jogador após marcar um gol diante de um estádio lotado e de dezenas de câmeras, observe como esta injeção de alegria o transforma no ato da comemoração. Até mesmo para quem joga futebol de quarta na quadra do bairro sabe o quanto é saborosa aquela dose de endorfina no sangue, imagine um jogador celebridade, ídolo de milhões. Talvez seja por isso que muitos jogadores entrem em depressão profunda ao aposentarem-se, ou também porque em alguns casos substituem esse antigo poder por drogas químicas. A ausência daquela sensação de poder e influência sobre as pessoas através do esporte e do desempenho do próprio corpo pode causar séria abstinência.

Algo parecido podemos perceber na conduta de políticos, principalmente quando o entusiasmo do discurso se faz presente. São senhores e senhoras suando em bicas, com os olhos esbugalhados, gesticulando acrobaticamente na sede de encontrar as palavras certas em seus arcabouços retóricos. É comum, em todas as esferas de poder, vermos senhores sedentos se agarrarem aos seus tronos com a mesma força que um viciado em crack segura seu cachimbo. É comum vermos atos de desespero público por conta da corrida ao posto desejado, leia-se a corrida presidencial e a forma com que seus postulantes se postam diante de debates e discursos. O poder político talvez seja a droga mais fortemente desejada e, por isso, a mais segregada de todas.

Essa é a droga do poder, seja político, acadêmico, artístico ou na comum versão celebridade do esporte, o que querem é sempre estarem diante de platéias e aplausos, cumprimentos e aprovações. Ser um poderoso, eis a busca de qualquer drogado. Atingir níveis sobre humanos de prazer e plenitude, quase nada os diferencia. Qual seria então a diferença de drogados e poderosos? Tentem responder, mas tenham cuidado, o poder seduz... e vicia!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sea ahora

La vida es la única oportunidad que tenemos para hacer algo a la humanidad. Algo que quede y sea un beneficio para las personas que, después de tú, vivirán. Porque la muerte es el final de la consciencia, la muerte es el regreso a la totalidad de la naturaleza. Sea ahora mismo alguien productivo, no dejes para después porque el después no existe.

Sensacionalismo nosso de cada dia


A grande mídia tem uma capacidade ímpar de criar emoções e tensões mais do que desnecessárias na população. Em nossa experiência recente temos alguns casos e acontecimentos transformados em verdadeiras epopéias midiáticas. Adolescentes parricidas, casais que lançam criancinhas, jogadores que estripam prostitutas... O que estes casos tem em comum? Por que chamam tanta atenção?

Algo se pode tirar de acontecimentos como estes: somos uma sociedade doente. A prova é que além de estarmos sujeitos a presenciarmos novos crimes como estes, é que também temos um curioso interesse em acompanhá-los. A realidade, bem mais do que a ficção do cinema, tem um sabor especial. Saber que não estamos julgando um personagem de novela, e sim um cidadão de carne e osso como nós, nos faz mais vivos, mais plenos. Há no sensacionalismo a realização do cultural desejo de vingança, desejo este que advém do nosso ressentimento, de nossas angústias enquanto seres ditos civilizados. Além disso, é que como um povo cristão, temos a necessidade de nos vingar de nós mesmos, afinal, somos o próprio pecado.

O sensacionalismo, dessa forma, pretende e consegue criar perfeitos bodes expiatórios para que possamos descontar toda essa nossa carga de maus sentimentos. Por estes reais personagens, incansavelmente expostos pela grande mídia, temos uma visão privilegiada do que somos capazes enquanto seres humanos. Talvez daí nasçam o nosso espírito vingativo e essa nossa curiosidade mórbida por fatos tão repugnantes quanto pouco importantes.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um pobre coitado

Com o controle remoto na mão
Ele se sente forte e poderoso
Mas o pobre coitado não sabe
Que está num círculo vicioso

Apertando pra cima e pra baixo
Ele se sente livre na programação
Mas o pobre coitado não sabe
Que está preso na televisão

Uma vez dormiu e não desligou
A televisão, ligada permaneceu
Foi então que num pesadelo
A sua alma se perdeu

O pobre coitado agora procura
A sua alma que foi roubada
Apertando pra cima e pra baixo
Com sua mente televiciada



sábado, 7 de agosto de 2010

A abismaticidade do ser

Abismático é aquele que vive o abismo, que olha o abismo e é olhado por ele. Vivê-lo é ansiá-lo. Olhá-lo é ser engolido. Nunca se sabe o que há no fundo do abismo. A imaginação, e só ela, é a porta pela qual a abismaticidade se constrói. Construção essa que não se sustenta, cai, desaba sobre a própria existência. Existir é abismar-se, abismar-se é maravilhar-se ante a profundidade imensa e infinita da vida. Sentir o vento enquanto desmorona-se, sentir a materialidade da não sustentação. Vir a ser é tão simplesmente se deixar engolir, o abismo vive e se alimenta das almas que nele se depositam. É preciso sentir também a escuridão, enxergar a beleza da não iluminação. A falta de luz, quem nunca sentiu prazer ao fechar os olhos? Revela-se aí a primeira forma de abismo. Cair lentamente é a pura perfeição. Portanto, simplesmente solte o peso e assim desmaterialize-se completamente sobre o nada e junte-se a ele.

terça-feira, 13 de julho de 2010

PORQUE EU VOTO NULO

Desde a minha primeira eleição com 17 anos (2002) me aproximei da idéia de anular o voto como forma de revolta contra o estado das coisas. Porém, ao votar NULO hoje já não sinto mais aquele caráter revolucionário de algumas eleições atrás e já não espero que o NULO vença. Se vencer, como dizem, haverá uma nova eleição com novos candidatos. Mas, afinal, que mudança isso representa? Somente novos-velhos candidatos manipulados pelas mesmas empresas e movidos pelos mesmos interesses (Partido? o que é isso?).
Portanto, assumo, votar NULO não trás nenhuma solução prática. Em minha opinião, o que na verdade pode ser demonstrado com este tipo de atitude é o descontentamento com a política em si, não somente com os mandatários. Se ainda se proliferam por aí políticos dos tipos messias, coronéis, demagogos e assistencialistas, é porque a democracia assim o permite. Não há vontade política para erradicar do plano eleitoral tipos como esses, políticos profissionais movidos por interesses próprios e alheios ao sentido da verdadeira justiça social, muito menos para controlar essa ostensiva propaganda política que nos jogam na cara como se votar fosse comprar a melhor geladeira.
Na democracia, como diria um amigo, todos temos o direito de eleger um ladrão. Grande ilusão é acreditar que elegeremos e seremos representados por A ou B, ou partido C ou D, por trás das célebres e até simpáticas figuras estão as grandes corporações de interesses globais, estes sim muito mais efetivos na construção e definição do nosso destino enquanto cidadãos. Definitivamente, ganhe quem ganhar, pra mim tanto faz! As verdadeiras e necessárias mudanças não vão mesmo ser realizadas como deveriam. O meu voto NULO é apenas um grito ingênuo e solitário que diz: NÃO, VOCÊS NÃO ME REPRESENTAM!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ela é livre

Lá vai ela, nos seus passinhos curtos, com seu olhar verde vendo lá longe um lugar bonito. Lá vai ela, surfando em suas mechas onduladas, sentindo que a vida deve ser mais colorida, e por isso pinta pra transformar o que era feio em algo mais belo. Lá vai ela, sentindo cheiros novos, inventando novas formas de achar que a vida vale a pena. Lá vai ela, brigando com quem não entende que nem sempre o sorriso vai desabrochar em flor. Lá vai ela, preguiçosa, andando em descompasso porque sonha acordada. Lá vai ela, mostrando que as horas podem ser mais lentas e melhores quando se está com ela. Lá... lá foi ela, porque ela é livre, porque ela é leve, porque ela voa. Lá foi ela, pois quem a prende jamais aprende que a vida deve ser assim: livre e bela, igual a ela.

terça-feira, 9 de março de 2010

El primer poema en español

Tienes sangre en tus manos
Tienes culpa en tus ojos
y las olas que bañan tu cuerpo
Jamás podrán lavarte


Amarte es mi destino
Mirarte es mi sofrir
y por las calles que te llamo
Solo responde la soledad

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Aquilo que nos possui

Falta ainda inventar um jeito de acabar com a fome no mundo, de acabar com a corrupção, com a violência e com a indiferença. A tecnologia ensinou ao homem que ele pode modificar a natureza e usá-la ao seu favor, mas não resolveu esses graves problemas que são tão antigos quanto os do tal "homem das cavernas". A ciência criou tantos outros problemas que a idéia de progresso e evolução passou a ser sériamente questionada. Seremos mesmo assim tão evoluídos? Tudo o que nos rodeia parece ser um algo a mais sem rosto e sem alma, clamando por energia e petróleo, precisando de nossos cuidados e preocupações... A posse dos bens materiais nos traz, para além de todos os benefícios, facilidades e comodidades, o medo do roubo, da perda, ou seja, do não ter mais! Somos também posse, a posse de tudo aquilo que criamos.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

NÃO SEREMOS SEMPRE

Nossa alma não nos pertence eternamente, somos parte de uma totalidade e a individualidade é passageira. Nosso corpo, constituído de matéria, recebe, ao nascermos, uma essência que chamamos de alma ou espírito. Sem ela somos apenas matéria sem vida, um corpo sem essência que rapidamente se desintegra e se distribui na natureza. Da mesma forma, nossa personalidade não é eterna, a essência que recebemos no nascimento - dádiva da natureza - retorna à totalidade do universo quando morremos. Assim como o corpo que retorna à natureza, a alma também é devolvida no ato da morte. O egoísmo do ser humano - e talvez o medo - o impede de aceitar o fim da própria consciência, o que não significa o fim da vida, pois aquela essência (alma) e aquela matéria (corpo) que nos pertenceram passam a compor novas formas de vida. Aquele que se enxerga enquanto indivíduo até após a morte está cego para o fato de que somos valiosas, porém, minúsculas partes do todo. Essa totalidade, que é viva e eterna, exige o retorno da vida individual que ela mesma possibilitou. A memória, a consciência, a alma, o corpo, enfim, tudo o que nós somos retorna a totalidade num processo de reciclagem e recriação. Portanto, para nos tornarmos eternos enquanto indivíduos teremos que deixar uma obra, algo concreto, assim como os poetas, algo que alimente a vida daqueles que, depois de nós, também receberão essa dádiva que hoje experimentamos. Busquemos aqui e agora uma razão e uma função para viver, pois nós... nós não seremos sempre nós!