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O deleite da contradição
Era
um passado que ainda machucava, incomodava, mas ainda assim fazia falta
no seu coração. E não apenas ali, esse passado também faltava no
seu sexo, na sua boca, onde o grito era contido e o gosto brotava como
saliva toda vez que lembrava. Pensou que seria uma merda resistir, que
ser forte e coerente era algo deveras desinteressante. Pensaria mais e
talvez concluísse que o melhor era esquecer, mas não fazia sentido, queria agir sem pensar. E então ela decidiu provar, sentir de novo o deleite da contradição, por isso resolveu atender o chamado meio doce
meio amargo de um passado recente que ao mesmo tempo machucava e molhava o seu corpo. Porém, o seu desejo insano se confundia com um
intenso rancor que palpitava no seu peito sempre que se sentia
contrariada. Ela não hesitou em gritar suas mágoas que, por mais que
fossem superadas, ainda reverberavam na sua memória. Ele escutou
paciente, deixou fluir, mas não aceitou quando ela novamente duvidou
do seu amor maior. Ela sentia tristeza, percebia mais uma vez escorrer
por entre os dedos, por isso agia com desespero e ingratidão. Já não
havia mais nada a fazer, mais nada a dizer, só podiam lembrar... ou esquecer.
2 comentários:
Muito bom. Melancólico, do jeito que eu gosto. :3
Tão sábia e bela sua forma de expressão!
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