sexta-feira, 22 de maio de 2009

O preconceito no Brasil: racial ou social?

Existem aqueles que acreditam que no Brasil o preconceito não é racial (de cor), mas social (de classe). Este é mais um argumento em prol do mito da democracia racial, isto é, uma falácia. Na verdade, o preconceito social é algo inerente ao sistema, ou seja, está presente em todos os lugares onde impera a desigualdade social, independente de grupos étnico-raciais que a sociedade envolve ou do quão antagônica é essa desigualdade. A camada mais rica da sociedade, aquela que impõe os padrões de comportamento e detém o poder de consumo, tem sempre algo a contestar no modo de vida dos diferentes; sempre haverá preconceito contra o mais pobre e excluído, pois ele (o não-chique ou brega) não compartilha dos valores do rico (o belo e requintado) – a cultura considerada erudita e de bom gosto. O preconceito de classe, enfim, existe no Brasil, assim como existe em todos os países capitalistas.
A barreira social é extremamente forte enquanto forma de exclusão e segregação. Como se não bastasse, vem a barreira racial e se junta àquela formando uma forma dupla de preconceito, tornando-se cada vez mais bloqueadora para o sujeito. A ascensão social, considerada no Brasil sempre aberta a todos independente da cor, não deve assim ser vista, pois os homens e mulheres negras sempre tiveram uma barreira a mais contra a qual lutar. Quase todos os estereótipos criados no Brasil em relação aos pobres se confundem com as caricaturas dos negros brasileiros. Temos na literatura de Monteiro Lobato a “Tia Anastácia” como uma figura repleta de significados que ligam um tempo muito recente aos tempos da mucama, a escrava negra que se junta ao lar da família branca se tornando um exemplo de fidelidade e subserviência espontânea.
Em todo o período da escravidão a palavra “negro” foi sinônimo de “escravo”, ambas as condições jamais se desvinculavam – nem mesmo quando a negra ou o negro eram libertos. Hoje, num sistema onde supostamente vivemos uma democracia racial, vemos, muito constantemente, a palavra “negro” se confundir com a palavra “pobre”. Lembremos dos exemplos de negros que, em festas, são confundidos com seguranças e que, em portas de hotéis, são confundidos com manobristas – esta é a figura do negro subalterno, o negro estereotipado. Tais confusões são causadas pela mistura das imagens e suas representações. O negro rico geralmente é um transgressor de sua representação, surpreende a todos, pois vence barreiras historicamente impostas e que persistem até os dias atuais. Este transgressor, que invade os espaços segregados e costumeiramente reservados aos brancos, provavelmente continuará convivendo com uma ou outra manifestação racista. Portanto, mesmo estando bem colocado socialmente ele ainda será discriminado, se não pela sua condição social, o será pelo fato de ser negro.