terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre lamas tóxicas

Há uma enxurrada de lama tóxica contaminando os corações dessa gente que mata com tiros de fuzil. Há uma enxurrada reacionária devastando as almas e cegando os olhos dessa gente crente em Deus. Uma lama que escorre dos esgotos dos bancos e congressos, das assembleias legislativas, da Rede Globo e da Igreja Universal. Às margens desse rio quase completamente devastado, vivemos incrédulos com tamanha indiferença e frieza, pois a água se contamina cada vez mais. O rio e seus peixes, a vida em sociedade e seus direitos sociais, a lama tóxica vem para exterminar tudo. Só há um caminho para conter a devastação total de nossa dignidade: sejamos nós uma perfeita barragem! Sejamos nós a justiça para que nenhuma Samarco, Polícia Militar ou Silas Malafaia possa engolir e matar absolutamente tudo. Plantando, reflorestando e fazendo rebrotar as nascentes de direitos humanos e de vida natural. Barrar e combater essa lama tóxica de privilégios e opressões que sufocam completamente a existência humana.

sábado, 31 de outubro de 2015

Um rabisco

Emoções implacáveis que nos fazem derramar as lágrimas do repensar. Lágrimas da reconstrução da conduta pessoal que a nossa capacidade permite ter. Que a nossa incapacidade nos força a ter. Que sejam lágrimas de força e superação, pois todos um dia tropeçam, ainda que uma rasteira o faça cair de encontro a sua própria falta de humildade. Acordar para a mudança é de fato necessário, tendo em vista que o sono da irreflexão se torna pesado com o tempo. Viver é um risco. Um risco torto. Muitas vezes um rabisco incompreensível, mas que é indubitavelmente a demonstração da capacidade humana de agredir e amar, não necessariamente nessa ordem. Obrigado mestres e mestras do ensinamento que ao meu lado estão.

domingo, 11 de outubro de 2015

Cervejas baratas

Ele estava ali
Tomando uma Antártica Subzero
Num boteco zoado
Tudo bem pra ele
Não se importava com as aparências ao redor
Só queria tomar umas cervejas baratas
Sem ser importunado
Seus joelhos doíam
Por isso não queria ir embora
Pegar um ônibus
Depois subir as escadas do seu apartamento
Financiado pela Caixa Econômica
De onde a sua mulher o havia expulsado na noite anterior
Ela não aguentava mais o seu bafo de cachaça
Não aguentava mais a louça suja
Não aguentava mais a vida ao seu lado
Pediu outra Subzero
Um moleque de rua lhe pediu pra comprar uma bala
Deu o dinheiro
Não quis a bala
Tinha que ir embora
Fazer sua mala
Bebeu o latão em três goles
Soprou um arroto quente
Pagou as quatro Subzeros e partiu
No ônibus ouviu pessoas comentarem sobre o seu odor
Se sentia um verdadeiro lixo
Lembrou que seu filho também havia comentado
Jogava na sua cara o vício e a falta de dinheiro
Maldita hora que resolveu se rebelar
Maldita hora
Deveria ter se contentado com um emprego qualquer
Mas se perdeu na busca de um sonho
A arte não era para um homem como ele
Quem acreditaria em sua obra
Um cachaceiro
Com o orgulho ferido
Com dores nos joelhos
Agora iria morar sozinho
Num quarto cozinha e banheiro
Com seu pincel telas e um cavalete
Pintaria os sonhos que não realizou
Pintaria a paz que desperdiçou

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pai Xangô

Pai Xangô ficou sabendo
Pai já tá arresolvendo
Se num for ainda agora
Vai chegar é sem demora
Injustiça deixa não
O seu ôxe tá na mão
Antes docê perceber
Ele vem prarresolver
Tem covarde aí devendo
Pai Xangô ficou sabendo


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Falem por mim

Palavras vãs que antes me escaparam, hoje assopro como a fumaça de um cigarro. Vejo-as girando, subindo, se dissipando com o vento. Não seria uma pena não dizê-las? Com licença, mas vai cumprir o seu destino, pensamento inútil. A miséria do excesso me acometeu, mostrando que o silêncio pode ser a melhor resolução. A partir de agora serei omisso com aquela regra que me obriga a dar respostas, a fazer perguntas, a comentar os surtos alheios, de raiva e de paixão. Não me escaparão mais palavras, nem de meus dedos, nem de minha língua. Quieto, irei só para casa. Deixarei que falem por mim, pois como bem sei, têm muito a dizer todos vocês. Então falem, falem por mim. Falem por seus ancestrais e por aqueles que ainda hão de vir daqui a um milhão de anos. Só não me culpem lá na frente pelo resultado de suas verborragias insanas, eu terei estado em silêncio. No silêncio continuarei, até que todos nós absolutamente mudos, consigamos juntos compreender alguma coisa.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

HOMENAGEM AO 7 DE SETEMBRO

Um país que tem como lema em sua bandeira a máxima "Ordem e Progresso", sem bem explicar o que isso significa, jamais será independente. Jamais poderá dizer que o povo se libertou das amarras opressoras e colonizadoras. Uma vez invadido, o território sobre o qual vivemos nunca deixou de ser usurpado.
Ordem para quem? Progresso para quê?

Eu trocaria a frase por "Reflexão e ação crítica", ou até mesmo "Poder para o povo". Porém, a história das mentalidades nos mostra qual o sentido de tudo isso: por meio de uma invenção chamada "República Brasil", mover o orgulho de milhões de pessoas, delimitando fronteiras, separando povos, justificando outras colonizações e rankings de desenvolvimento. A fantasia de muitos, para outros, não passa de uma grande empresa.


Sou brasileiro, sou sírio, sou nigeriano, sou pátria universal. Que essa bandeira seja colocada em seu lugar de mero símbolo; que as fronteiras sejam rompidas, afinal, humanidade deve ser unidade.

Independência é se libertar da indiferença e da desigualdade; é negar a sanha capitalista; é negar a falsa promessa feita às margens plácidas do Ipiranga; é escrever a própria História.

Vocês querem comemorar uma mentira? Fiquem também com o 13 de maio, com o 9 de julho e com o 22 de abril. Mudar de rumo é necessário e urgente, conquistar a independência é a ordem do dia!

domingo, 12 de julho de 2015

Qual sua concepção de luta?

Quem luta mais?
Você ou eu?
Será que é o bastante?
Ou mero discurso?
Há quem pense ser melhor
Que o outro na intenção
De apenas se sobressair
Fazer melhor e poder falar
O que pesa mais?
O fardo da injustiça?
Ou o da inatividade?
Você não faz nada
Para mudar esse mundo
Qual sua concepção de luta?
Viver!

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Eu rejeito

Tudo bem eu aceito
Que sempre fui um sujeito
Deveras imperfeito
Mas no que tange a esse pleito
Nunca me senti no direito
De pensar à respeito
Com tanto despeito
Reduzir a maioridade penal não é jeito
De dar um novo conceito
A um país que foi feito
De tanto preconceito
Onde o crime perfeito
É ter nascido num branco e rico leito
Onde o político eleito
Só pensa no próprio proveito
Onde o lar é desfeito
E o moloque ainda sem pelo no peito
É tido como suspeito
Sem ao menos ter tido o direito
A uma sociedade sem tanto defeito
Por isso eu não aceito
Nem me dou por satisfeito
A redução da maioridade penal eu rejeito