quarta-feira, 12 de julho de 2017

Um texto para novembro

Eu sou branco e posso afirmar: não existe racismo reverso. Se uma pessoa negra fizer você sentir vergonha de ser branco com argumentos contundentes, sinta vergonha de ser branco. Apenas aceite e reflita. Vergonha é muito pouco perto do que se vive na pele negra, devemos ao menos imaginar aquilo que não sentimos.
Ninguém apaga o quão abjetos foram a maioria dos nossos ancestrais em relação ao povo negro. O povo branco historicamente valeu-se dos privilégios da escravidão e depois da "abolição" continuou assegurando vantagens, enquanto negros e negras eram forçados às margens pela repressão violenta das classes dirigentes.
O branco demonizou e criminalizou sua cultura e continente. Açoitou seus corpos e atribuiu padrão de feiura à sua aparência. Apropriou-se de seu conhecimento. Apesar do tempo, continua assim o fazendo.
Nós, descendentes de imigrantes europeus, devemos saber que nossos bisavós e tataravós vieram para o Brasil constituir a classe média, vieram “fazer a América”. Passaram dificuldades, trabalharam bastante, nada mais do que isso. A política de branqueamento da população brasileira foi a resposta republicana diante do medo da liberdade dos ex-escravizados, do medo que uma revolução negra ocorresse. No Brasil pós-abolição, privilégios econômicos e sociais foram concedidos às famílias brancas, enquanto para as famílias negras houve a continuidade da exclusão, da criminalização e do genocídio.
Hoje, no século XXI, a abolição ainda é um projeto fracassado e nós brancos continuamos a manter vantagens sociais num país de maioria negra. Uma maioria que tem na sua cultura traços fortes de resistência, resiliência e criatividade que admiro veementemente. Que não se atribui papel de vítima e sim de luta.
O racismo está em nós como manutenção desses privilégios, também se apresenta como menosprezo e discriminação em todos os âmbitos da sociedade. Isso quando não extrapola para violência estrita e deliberada. Somos racistas como continuidade histórica e civilização, é preciso reconhecer para poder desconstruir. O racismo é coisa que branco inventou, por isso é problema nosso. Não existe racismo reverso.
Dia 20 de novembro, dia da imortalidade de Zumbi dos Palmares.