quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lixo ordinário

Uma brincadeira, para ser brincadeira, precisa funcionar como um processo que contém “começo, meio e fim”. Essa estrutura se revela, no caso de uma criança, primeiro no ato de tirar os brinquedos do armário. A pequena, ou pequeno, escolhe o objeto e o retira da caixa onde estão guardados. Depois de espalhado tudo pelo chão, a criança começa a se divertir, sempre com criatividade naquilo que escolheu fantasiar. A brincadeira, no entanto, não termina se os brinquedos não forem guardados de volta. O ato de devolvê-los ao seu lugar representa aquilo que destacamos inicialmente como processo, o pensar no fim.

Ao contrário, vamos supor que a criança, após terminada a brincadeira em si, vire as costas para os brinquedos, ligue a televisão e deixe tudo espalhado pelo chão aguardando que alguém arrume para ela. Nesse caso, a responsabilidade pelo “resíduo” do ato de brincar é deixada de lado e outro terá que “limpar”. A criança, portanto, deixa de sentir que aquilo lhe pertence, pois a brincadeira se resume à diversão e o final do processo é terceirizado. Não raro, um adulto acaba se responsabilizando pela coleta e armazenamento daquilo que a criança descartou, reforçando assim o seu descompromisso.


Na sociedade do consumo é a mesma coisa, onde nós, crianças irresponsáveis, vivemos a cultura do descartável. Porém, nossas brincadeiras vão muito além da fantasia e penetram na vida concreta causando prejuízos imensos à natureza e, consequentemente, à própria vida humana. Quando tiramos um produto qualquer da prateleira do supermercado estamos entrando num processo que começa com a compra, continua no consumo e, supostamente, termina no descarte. Aí entra a irresponsabilidade inerente à nossa sociedade, basta notar a sujeira das ruas para perceber isso.


Descartar as embalagens e demais resíduos colocando-os (ou jogando-os) na rua para serem coletados seria o passo final? A certeza de que o resíduo indesejável irá para longe de mim representa o fim do processo do ato de consumir? Ou isso não passa de uma forma de se isentar da responsabilidade com aquilo que produzimos/consumimos? Essas perguntas nos levam a refletir sobre a sociedade que vivemos, pois nela, é comum varrer a sujeira para debaixo do tapete. O lixo ordinário é o como o brinquedo ignorado, mas além de estar espalhado pelo chão, é ainda enterrado numa vã esperança de que estaria assim sumindo de nossas vidas sem nos causar qualquer consequência futura.


Em resposta à essa irresponsabilidade generalizada, já existem diversas ideias como as caixas de compostagem para lixo orgânico que poderíamos ter em casa, além de uma maior eficiência no processo de reciclagem de materiais descartáveis. Acontece que em cidades com governos igualmente irresponsáveis, como em Ribeirão Preto, essas ideias não são transformadas em políticas públicas, ao contrário, são negligenciadas e postergadas para o futuro longínquo. É necessário que o cidadão assuma a responsabilidade nesse processo, que começa no ato de consumir, passa pela forma de descartar e continua na exigência de políticas mais desenvolvidas para a gestão dos resíduos sólidos e da limpeza urbana. O final vai depender de nós.


terça-feira, 10 de julho de 2012

A alma do negócio é você

Na corrida eleitoral a propaganda é o motor. Durante esse processo, os candidatos disputam a tapas os melhores editores, publicitários, maquiadores e cabeleireiros. É importante agradar pela imagem, pelo dinamismo dos vídeos, pela performance, pela beleza dos apresentadores e pela capacidade de transformar o feio em belo.

Vivemos em um tempo onde o audiovisual cumpre um papel preponderante não só na publicidade de produtos mercadológicos, mas também na promoção de ideias e conceitos. Os políticos não fazem por menos. Não tem grana para contratar a equipe da Globo? Que tal amarrar uma gaiola na sua bicicleta? Ou talvez ficar acenando para os automóveis na avenida? Pinte o seu carro, sei lá, é tudo propaganda!

Na propaganda eleitoral o programa é o próprio intervalo comercial. Não se oferece algo produtivo, não se educa e nem se politiza. O que se faz é a tentativa de convencimento cego, pautado pela capacidade de mentir sinceramente. Perceba que, até mesmo no debate ao vivo que sempre rola na televisão, o que se sai melhor é aquele que age com mais destreza, jogando olhares charmosos e falas bem articuladas para as câmeras.

Nesse negócio, que por sinal é patrocinado por grandes empresas nacionais e multinacionais, o interesse é ganhar o seu voto. Enquanto no capitalismo a publicidade pretende criar necessidades a partir da falsa promessa de felicidade, na publicidade eleitoral se pretende convencer que a sua vida será melhor mediante um voto. Será?

Não podemos descartar a importância das eleições, nossa reflexão vem no sentido de subestimar a importância da propaganda eleitoral. Decidir o seu voto baseando-se em peças publicitárias, e não por uma investigação mais aprofundada dos programas políticos e histórico dos candidatos, é vendê-lo barato de mais. Proteja-se de quem você vai escolher, compare e não se deixe levar pela hipnose visual. Nessa política financiada, a alma do negócio é você.