domingo, 30 de outubro de 2011

Reflexões de um domingo a tarde

§ A educação sempre teve o drama como elemento informal de construção, isto é, produz-se um sentido dramático do processo de aprendizagem. Em termos práticos, essa disfunção pedagógica se revela nos tensionamentos entre educador e educando. Para que se haja sucesso, exercem-se cobranças objetivas e subjetivas sempre ligadas à competitividade entre os sujeitos. O caráter evolutivo e etapista do ensino leva ao risco de conflitos afetivos a partir do não atingimento dos objetivos educacionais. O drama se estende à psique do sujeito frustrado que passa a interiorizar complexos de inferioridade e incapacidade.

§ Diz-se que o poder sem abuso perde o seu charme. A partir disso podemos analisar a banalização do abuso de poder, ação que, no entanto, parece ser unicamente observada nos atos de violência física. O abuso de poder está presente em todas as esferas da sociedade, por exemplo, na publicidade política onde as ações do Estado se revestem de um constante personalismo, isto é, exalta-se abusivamente a figura do governante em detrimento da estrutura pública de poder. Na imprensa, o abuso se mostra na manipulação da informação quase sempre estimulada pelo projeto político da empresa, ou seja, abusa-se do poder comunicacional para se difundir a opinião privada, não raro sob o nome de opinião pública. Outra forma de abuso está na propaganda de bens de consumo quando se abusa do poder de uma figura pública, dita famosa, para se vender algo de necessidade duvidosa ou, até mesmo, de qualidade questionável. A partir disso, podemos concluir que os meios de comunicação são a maior ferramente de abuso de poder, pois o naturaliza no recalcamento da verdade - é o 2+2=5 de Orwell. Já o abuso do poder intelectual, também conhecido como ideologia da competência, consiste na construção de um conhecimento científico unilateral que desqualifica outras abordagens da vida social, inclusive as espiritualistas. Abusa-se do poder intelectual a partir das ideias de verdade única e de evolução linear do pensamento cético humano. Segundo a ideologia da competência, nada se conclui sem o aval do intelectual que tem, por sua vez, o poder de atestar a veracidade das ideias. A mídia, mais uma vez, aparece como espaço de abuso, desta vez intelectual. É pela mídia que os fatos humanos são interpretados publicamente, ou seja, o campo comunicacional reserva aos intelectuais competentes a articulação dos assuntos e, consequentemente, o roteiro do espetáculo social.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011