sábado, 31 de outubro de 2015

Um rabisco

Emoções implacáveis que nos fazem derramar as lágrimas do repensar. Lágrimas da reconstrução da conduta pessoal que a nossa capacidade permite ter. Que a nossa incapacidade nos força a ter. Que sejam lágrimas de força e superação, pois todos um dia tropeçam, ainda que uma rasteira o faça cair de encontro a sua própria falta de humildade. Acordar para a mudança é de fato necessário, tendo em vista que o sono da irreflexão se torna pesado com o tempo. Viver é um risco. Um risco torto. Muitas vezes um rabisco incompreensível, mas que é indubitavelmente a demonstração da capacidade humana de agredir e amar, não necessariamente nessa ordem. Obrigado mestres e mestras do ensinamento que ao meu lado estão.

domingo, 11 de outubro de 2015

Cervejas baratas

Ele estava ali
Tomando uma Antártica Subzero
Num boteco zoado
Tudo bem pra ele
Não se importava com as aparências ao redor
Só queria tomar umas cervejas baratas
Sem ser importunado
Seus joelhos doíam
Por isso não queria ir embora
Pegar um ônibus
Depois subir as escadas do seu apartamento
Financiado pela Caixa Econômica
De onde a sua mulher o havia expulsado na noite anterior
Ela não aguentava mais o seu bafo de cachaça
Não aguentava mais a louça suja
Não aguentava mais a vida ao seu lado
Pediu outra Subzero
Um moleque de rua lhe pediu pra comprar uma bala
Deu o dinheiro
Não quis a bala
Tinha que ir embora
Fazer sua mala
Bebeu o latão em três goles
Soprou um arroto quente
Pagou as quatro Subzeros e partiu
No ônibus ouviu pessoas comentarem sobre o seu odor
Se sentia um verdadeiro lixo
Lembrou que seu filho também havia comentado
Jogava na sua cara o vício e a falta de dinheiro
Maldita hora que resolveu se rebelar
Maldita hora
Deveria ter se contentado com um emprego qualquer
Mas se perdeu na busca de um sonho
A arte não era para um homem como ele
Quem acreditaria em sua obra
Um cachaceiro
Com o orgulho ferido
Com dores nos joelhos
Agora iria morar sozinho
Num quarto cozinha e banheiro
Com seu pincel telas e um cavalete
Pintaria os sonhos que não realizou
Pintaria a paz que desperdiçou

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pai Xangô

Pai Xangô ficou sabendo
Pai já tá arresolvendo
Se num for ainda agora
Vai chegar é sem demora
Injustiça deixa não
O seu ôxe tá na mão
Antes docê perceber
Ele vem prarresolver
Tem covarde aí devendo
Pai Xangô ficou sabendo