domingo, 9 de dezembro de 2012

O deleite da contradição

Era um passado que ainda machucava, incomodava, mas ainda assim fazia falta no seu coração. E não apenas ali, esse passado também faltava no seu sexo, na sua boca, onde o grito era contido e o gosto brotava como saliva toda vez que lembrava. Pensou que seria uma merda resistir, que ser forte e coerente era algo deveras desinteressante. Pensaria mais e talvez concluísse que o melhor era esquecer, mas não fazia sentido, queria agir sem pensar. E então ela decidiu provar, sentir de novo  o deleite da contradição, por isso resolveu atender o chamado meio doce meio amargo de um passado recente que ao mesmo tempo machucava e molhava o seu corpo. Porém, o seu desejo insano se confundia com um intenso rancor que palpitava no seu peito sempre que se sentia contrariada. Ela não hesitou em gritar suas mágoas que, por mais que fossem superadas, ainda reverberavam na sua memória. Ele escutou paciente, deixou fluir, mas não aceitou quando ela novamente duvidou do seu amor maior. Ela sentia tristeza, percebia mais uma vez escorrer por entre os dedos, por isso agia com desespero e ingratidão. Já não havia mais nada a fazer, mais nada a dizer, só podiam lembrar... ou esquecer.