quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sonrisa negra

Moleque es una palabra que ciertamente no existe en la lengua española, pero tampoco tiene sus orígenes en el vocabulario portugués, ella, como muchas otras del cotidiano brasileño, nació de la inteligencia africana que llegó a mi país esclavizada. Originalmente, “los moleques” eran aquellos chicos negros, hijos de esclavos que vivían en las haciendas. Estos jóvenes siempre generaban la desconfianza y el cuidado de sus señores porque eran muy traviesos y astuciosos, desde niños demostraban la destreza de los movimientos comunes de la cultura africana, cosa que en Brasil llamamos ginga. Ya los meninos, que eran los hijos de los señores y hombres blancos libres, reproducían el perjudicial comportamiento esclavista, pero jamás dejaban de convivir y aprender con los moleques. La capoeira, el samba y también el fútbol brasileño, todos cargan el “elemento moleque”, algo que hizo de la cultura brasileña una de las más plurales y vibrantes del mundo. Hoy en día, ellos, los borregos de mi nación, están tocando el samba en las favelas, jugando al fútbol de pies descalzos en las calles de los barrios lejanos y, a veces, hasta robando caramelos a los mercados. Pero también están ocupando los espacios de poder, buscando con la alegría de su cultura ancestral construir un país más justo. La verdad es que los moleques son el alma del pueblo brasileño, ellos enseñaron a la gente de este país a driblar la tiranía de los poderosos, a superar el dolor causado por los látigos que hasta hoy inciden sobre las espaldas de un pueblo pobre y explotado. La sonrisa negra, la belleza negra, su fuerza y su brillo, esto sí, fue lo que civilizó Brasil, así se construyó nuestra modernidad más allá de toda una historia de injusticias.


Publicado na revista "Siete Borreguitos" de circulação livre em Buenos Aires, Argentina. Dezembro/2011. http://sieteborreguitos.com.ar/index.html

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Luxúria e libido mental

Leituras são encontros a dois, são possibilidades de verdadeiros e apaixonados romances entre livro e leitor. Mas, é claro, também podem ser apenas transas casuais sem um envolvimento mais sério, algo assim superficial. Há, infelizmente, também aqueles partidários da castidade intelectual, mas estes não nos interessam aqui, eles nada nos oferecem pois escolheram a solidão fruto da ignorância. O que acontece, na verdade, é que nunca há um casamento, mas sim uma eterna troca de pares, isto é, novas paixões seguidas de um fim e assim por diante. O leitor insaciável não tem pudor, é promíscuo, envolve-se indiscriminadamente, às vezes com mais de um ao mesmo tempo (detalhe: quase nunca se preserva). São costumes antigos e que, enfim, continuam a existir. Em tempos de tecnologia avançada, a relação íntima com o conhecimento chegou ao ponto de se virtualizar, mas ainda existem os que não abrem mão de um contato direto, cara a cara, tête à tête. Entretanto, um verdadeiro amante do conhecimento e dos livros não se ilude, sabe que é efêmero o ato em si. Por isso ele segue com seus infinitos desejos e conquistas, sem nunca idolatrar o seu objeto de prazer. Ele usufrui do que o contato com um bom livro lhe oferece, sempre com gratidão e nunca se vangloriando. Assim, segue o seu lascivo caminho, sempre compartilhando suas experiências com seus semelhantes.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pensando a arte

A arte precisa ser autônoma, precisa renovar-se sempre a partir da cultura em que está inserida. O problema do mercado influenciar a produção da arte é que ocorre uma padronização muito grande, um movimento que não respeita especificidades e diversidades culturais. Um autor chamado Canclini diz que "A internacionalização do mercado artístico está cada vez mais associada à transnacionalização e concentração geral do capital". A essa subordinação da arte pelo capital se soma a cultura nacional de que "o importado é melhor" fazendo com que mídia e academia optem por reproduzir no Brasil modelos externos. É o velho complexo de inferioridade latino-americano. No entanto, eu acredito que hoje estamos valorizando mais a arte nacional, principalmente as tradicionais do povo. É claro que nos museus de arte contemporânea e arte "culta", a arte popular não entra, por isso são lugares cada vez menos atrativos ao contrário das próprias periferias. Eu acredito que a verdadeira arte hoje seja aquela produzida nas zonas marginais, precisamos reconhecer isso, pois a arte, como dito, deve ter autonomia criativa e não ser cópia do importado. Somos brasileiros ou ainda somos colonizados? Precisamos de uma arte com identidade, chega de engolir enlatados! Que eu não seja interpretado como defensor do nacionalismo, este não é o caminho. Defendo a possibilidade de que grupos sociais tenham possibilidades materiais e espirituais de potencializar suas tradições. Sem ser tradicionalista também, mas que a partir dessas culturas se criem respostas ao modelo egoísta-capitalista. O Brasil é uma imensa colcha de retalhos, mas a mídia quer que sejamos uma única palavra. Olhemos para a periferia, ali estão as novas possibilidades. Ali se encontra uma beleza diferente daquela que está nas capas de revista, precisamos recusar o pronto, o óbvio. Pensar a arte para além do consumo. Pensar a arte como um direito inalienável. Mais do que isso, pensá-la como um dever: é dever de todo cidadão ser artista!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Corpos de argila

Ser é viver em meio a outros, é estar em contato com a vida que existe também naqueles que estão ao lado. Existir não é possível sem o reconhecimento e a consideração dos que estão próximos, pois a vida não se realiza apenas com a materialização do corpo, mas sim a partir das muitas formas de interação. Para interagir, temos nossos sentidos que, se bem desenvolvidos, são capazes de não só gerar sensações, mas também alegrias e prazeres. Concordemos que a vida é uma dádiva, um presente da natureza, é preciso estar ciente disso e efetivamente valorizar esta oportunidade. Mas sem reflexões vazias e pseudo-poéticas, nossa intenção aqui é de fato percebermos que não se vive a partir do eu, mas do nós. Assim, podemos observar que o ato de não notar o outro é não notar a si mesmo, e a questão é que não devemos apenas notar como também desejar sua presença e seus ensinamentos. Não existe corpo vivo que não carregue ensinamentos, todos nós somos livros de infinitos aprendizados e lições. Aprender, eis a grande beleza da vida, é onde mora a possibilidade de uma incessante transformação.


Os aprendizes? São todos aqueles que estão dispostos a transformarem-se, eles possuem corpos de argila. Porém, é necessário estar atento, pois nossos corpos muitas vezes se tornam em peças inertes guardadas em pacotes. A formalidade, as condutas mecânicas do cotidiano, a vontade de corresponder ao que esperam de nós, tudo isso são coisas que nos envolvem de insensibilidade e assim nos impedem de estar prontos ao conhecimento. Um autêntico corpo de argila é aquele que se encontra natural, em estado pleno de construção, é onde se moldam sempre novas ideias, novas atitudes, novas vontades e desejos. Para que fique bem claro, ter um corpo de argila não é estar suscetível à manipulação deliberada do outro, mas sim aberto às suas contribuições que muitas vezes são involuntárias. Quando negligenciamos a capacidade de aprender e de nos transformar, esta argila seca e pode vir a se quebrar. Manter nossa argila úmida, cuidar para que não seja moldada de forma arbitrária, é assim que devemos estar para encarar com sabedoria os caminhos que virão.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

HAY QUE DESEAR

La vida, amigos y amigas, es una grand provocación, la vida es una oportunidad unica e indivisible. Las dificultades están claras, pero nuestros sueños y los más fuertes deseos surgen exactamente con el propósito de vencerlas ¡hay que desear! Todos sabemos que los retos de la vida humana son peligrosos y que los infinitos caminos posibles ofrecen sus riesgos, pero en esta oportunidad no tenemos el derecho de no intentar. Por eso deseamos, los deseos son nuestras respostas a las provocaciones de la existencia. Miren a los niños y a las niñas por ejemplo, miren la cantidad de deseos que ellos cargan en sus corazones sutiles. ¿Por qué estos pequeños parecen saber más de la vida que nosotros? Sin embargo, no basta desear para alcanzar, ¡Claro que no! Tampoco podemos pensar que solo con los sueños seremos felices y estaremos satisfechos, ¡Absolutamente! Necesitamos, amigos y amigas, realizarlos. Por imposibles que nos parezcan ser. Pero, ¿cómo realizar? ¿Cómo materializar nuestros sueños en un mundo tan lleno de obligaciones? ¿Cómo conquistar nuestros deseos en una sociedad tan centrada en la productividad? La dificultad está clara, no hay como cuestionarla. Pero imaginen, amigos y amigas, imaginen se los gobiernos, banqueros y toda la banda de capitalistas sedientos de plata nos pudiesen evitar el soñar, el desear. ¿Qué sería de nosotros? Nos resumiríamos a esclavos, a personas sin alma y sin rostro completamente petrificadas. Yo creo, más que nunca, que ¡debemos desear y soñar más y con más fuerza! Yo creo que solo así podremos un día volvernos más felices y tranquilos, listos para encarar las provocaciones que nos hace cotidianamente la vida. Los deseos son la materia prima de las conquistas, ¡Hay que desear!

Publicado na revista "Siete Borreguitos" de circulação livre em Buenos Aires, Argentina. Novembro/2011.

http://sieteborreguitos.com.ar/index.html

domingo, 30 de outubro de 2011

Reflexões de um domingo a tarde

§ A educação sempre teve o drama como elemento informal de construção, isto é, produz-se um sentido dramático do processo de aprendizagem. Em termos práticos, essa disfunção pedagógica se revela nos tensionamentos entre educador e educando. Para que se haja sucesso, exercem-se cobranças objetivas e subjetivas sempre ligadas à competitividade entre os sujeitos. O caráter evolutivo e etapista do ensino leva ao risco de conflitos afetivos a partir do não atingimento dos objetivos educacionais. O drama se estende à psique do sujeito frustrado que passa a interiorizar complexos de inferioridade e incapacidade.

§ Diz-se que o poder sem abuso perde o seu charme. A partir disso podemos analisar a banalização do abuso de poder, ação que, no entanto, parece ser unicamente observada nos atos de violência física. O abuso de poder está presente em todas as esferas da sociedade, por exemplo, na publicidade política onde as ações do Estado se revestem de um constante personalismo, isto é, exalta-se abusivamente a figura do governante em detrimento da estrutura pública de poder. Na imprensa, o abuso se mostra na manipulação da informação quase sempre estimulada pelo projeto político da empresa, ou seja, abusa-se do poder comunicacional para se difundir a opinião privada, não raro sob o nome de opinião pública. Outra forma de abuso está na propaganda de bens de consumo quando se abusa do poder de uma figura pública, dita famosa, para se vender algo de necessidade duvidosa ou, até mesmo, de qualidade questionável. A partir disso, podemos concluir que os meios de comunicação são a maior ferramente de abuso de poder, pois o naturaliza no recalcamento da verdade - é o 2+2=5 de Orwell. Já o abuso do poder intelectual, também conhecido como ideologia da competência, consiste na construção de um conhecimento científico unilateral que desqualifica outras abordagens da vida social, inclusive as espiritualistas. Abusa-se do poder intelectual a partir das ideias de verdade única e de evolução linear do pensamento cético humano. Segundo a ideologia da competência, nada se conclui sem o aval do intelectual que tem, por sua vez, o poder de atestar a veracidade das ideias. A mídia, mais uma vez, aparece como espaço de abuso, desta vez intelectual. É pela mídia que os fatos humanos são interpretados publicamente, ou seja, o campo comunicacional reserva aos intelectuais competentes a articulação dos assuntos e, consequentemente, o roteiro do espetáculo social.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

sábado, 10 de setembro de 2011

A felicidade dos outros

O crime é intrínseco ao sistema capitalista, pois este promove o desenfreado desejo do consumo (uma condição para a felicidade), mas naturalmente não dá condições para todos. A desigualdade é o motor propulsor da violência, não só a econômica, mas também a social, onde o sujeito se vê privado, além de tudo, de seus direitos mais básicos. Ainda assim, muitos excluídos servem passivamente ao sistema em trabalhos dos mais indignos. Os excluídos são a base do sistema, são eles que possibilitam essa vida dependente que a classe média leva. Enfim, estamos bem, somos um país calmo e não violento. Se tivéssemos realmente uma cultura de violência nosso país seria um verdadeiro caos, mas não é.



Aqui, apesar de toda humilhação diária que o trabalhador pobre sofre, lá está ele no ponto de ônibus mais uma vez. Agora, a corrupção sim, esta é generalizada, quase uma regra. Algo, aliás, pouco percebido, só se nota a corrupção política, a corrupção diária da população passa despercebida. É muito cômodo se colocar acima dos males sociais, a classe média trabalha muito, mas defende cegamente o sistema que lhes aplica a violência de todos os tipos. É como na doença, os sintomas são a evidência de um problema maior, sendo que este sim merece nossa energia para combater. Essa visão reducionista do problema, de que a violência é culpa de indivíduos e não a consequência das desigualdades, transforma grande parte da população em possíveis apoiadores de duras políticas de repressão. Queremos acabar com a criminalidade? Comecemos pela distribuição das riquezas e pelo reconhecimento dos direitos alheios! Enquanto se aceitar a privação de muitos em favor de poucos, enquanto nos acostumarmos com cenas de miséria, seremos também submetidos à insegurança e ao medo. Medo esse, aliás, que nos retoma ao início, é o medo do roubo do nosso consumo, medo do roubo da nossa felicidade, aquilo que nos diferencia dos outros. Os outros, aqueles malditos que insistem em não se conformar em servir de reservas.

sábado, 20 de agosto de 2011

Seres colectivos

Es necessário compreender que, antes de sermos individuos, somos una colectividad. Pero, es necessário mirar con atención: la colectividad es mayor que tu família, vá a allá de tú casa, de tú barrio y de tú ciudad. No podemos jamás ignorar su importância fundamental para la vida en sociedad. La magnitud y la miséria de esta vida no son vivenciadas por unos o por otros, sino por todos, todos vivimos estas adversidades y desafios humanos, com mayores o menores consequencias, pero vivimos. La fuerza que nos hace saltar al refugio del individualismo nos hace ciegos para nuestras semejanzas. Cuanto más el ser humano se hiciere existir por su libertad individual, más la vitalidad social proveniente de la unión perecerá. La libertad no se acaba cuando empieza la del otro, porque es la misma. Solo existe libertad en colectividad, jamás en el individualismo. Sin embargo, es justamente esto lo que quiere el sistema que nos comanda: que las fuerzas colectivas disgreguense junto con las posibilidades de aciones populares conjuntas de questionamento de la ordem. Aciones estas no en el sentido de la guerra, o de la ruptura violenta, que divide las personas en dos o más lados, pero si en el camino de uma vida equilibrada y más solidaria. Desde que, ha miliones de años, los dos primeros indivíduos de la raza humana se encontraron – ambos sentindo el miedo terrible de la soledad – se formó la primera unión, el primer ser colectivo, aquel que se torno más fuerte y venció el vacio de la existencia solitaria. Nada más es la depresión do que la cruel constatación de que la vida es muy dura para ser encarada sola.

Publicado na revista "Siete Borreguitos" de circulação livre em Buenos Aires, Argentina. Junho/2011.

http://sieteborreguitos.com.ar/index.html

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Oração poluída


Bom dia, poluído dia!

E suas nuvens marrons carregadas de espirros,

e suas doces queimadas de açúcares e bagaços,

e suas duras camas de papelões e trapos,

e suas motorizadas fumaças de pressas alheias!


Boa tarde, poluída tarde!

E suas notas ensebadas que correm pelas mãos,

e seus panfletos transeuntes que dobram as esquinas,

e seus chicletes elásticos que beijam os pneus,

e seus grossos cuspes que umidificam os ares!


Boa noite, poluída noite!

E seus cartazes colados que vendem alegrias caras,

e suas latas amassadas de desesperanças,

e suas cinzas aspiradas habitante dos corpos,

e seus amores de látex que engravidam os asfaltos!


Amém!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Salvador - BA




Estava eu sozinho maravilhado fotografando as ruas do pelourinho, eis que ouço alguém falando atrás de mim, era uma senhora solitária na janela. Ela não tinha muito objetivo com aquela prosa que me envolveu, ou talvez eu é quem não tivesse a capacidade de entendê-la. A verdade é que quando disse que seguiria a minha caminhada, depois de ouvi-la por alguns minutos, ela consentiu, mas antes que eu fosse pronunciou a única frase que pude entender completamente: "Vai com Deus, se precisar estarei aqui."

domingo, 5 de junho de 2011

Aquilo que me falta

Eu sou aquilo que me falta, eu sou aquilo que não tenho. E minha vida assim se faz, incompleta e carente, digna de uma verdadeira imperfeição. Sou cobrado por aquilo que me falta, esperam de mim aquilo que não tenho. E minha sina assim se faz, sofrido por querer ser quem nunca serei, infeliz por buscar o que jamais terei. Meu desejo era estar satisfeito comigo mesmo, e que estivessem satisfeitos comigo como sou. Meu desejo era ter aquilo que tanto quero e, assim, ser o que tanto querem de mim. Mas não posso ser aquilo que espero ou que esperam, não posso ser, se não, aquilo que sou. Eu sou aquilo que me falta, eu sou aquilo que não tenho.

domingo, 22 de maio de 2011

A ditadura bate à porta!


Neste sábado, dia 21 de maio, a polícia militar de SP fez da marcha da maconha (uma simples manifestação pela legalização do cultivo da planta e do seu uso) um acontecimento muito maior e mostrou a sua incapacidade de compreender o conceito de liberdade de expressão. Estado democrático? Não, eles não tem a capacidade de entender isso, não conseguem também perceber no que implica esse tipo de reação desgovernada e violenta. Seria bom se isso levasse a sociedade a acentuar o debate, não só da legalização da maconha, mas também das formas de ação dessa polícia fascista. É óbvio que muitos policiais, trabalhadores e gente humilde que são, são contra essa imbecilidade, mas estão inseridos numa instituição que tem como missão (para além de oferecer segurança) reprimir atos que arbitrariamente denominam como "desobediência". É revoltante ver que nem mesmo os jornalistas que cobriam a ação brutal da tropa de choque foram poupados. "Gás de pimenta para temperar a ordem", diria uma outra nação. Esses "paus-mandados", assim agiram com certeza, parece que se divertem com isso, eu me lembro agora de uma foto que mostra um soldado espirrando o gás no rosto de crianças faveladas.

Se há um problema realmente sério a ser constatado nesta situação, o problema é essa repressão incompreensível que destrói a nossa crença numa possível democracia. Vergonha é o sentimento que eu carrego de viver nesse estado de sítio onde a única liberdade que nos parece ser garantida é a (falsa) liberdade de consumir desenfreadamente. Esse é o preço que pagamos, nós paulistas, por vivermos num estado há décadas governado por essa direita nojenta que é o PSDB. Abaixo a ditadura, sim a liberdade de expressão!

sábado, 21 de maio de 2011

Às vezes

Eu queria que a vida fosse mais curta, e que fosse mais intensa. Às vezes temos tanto a fazer, às vezes parece que estamos em estado de espera. Essa rotina desequilibrada concentra tantas coisas em tão pouco tempo, e nos deixa tão vazios em outros momentos. Eu sei, tenho muitos livros na estante, sou sócio de uma locadora de filmes, tenho uma bicicleta pra pedalar e um jardim pra regar. Mas é que às vezes parece que ainda falta alguma coisa, alguma coisa menos óbvia, menos saturada. Acho que falta natureza, falta vida em estado natural, falta contato com o tempo natural, aquele tempo que não apita e não é linear. Eu to pensando seriamente em viver em outro lugar, não sei se vou ter a mesma quantidade em coragem que tenho em vontade. Planos não significam nada antes de serem concretizados, sonhos são só sonhos se não remetem às nossas ações. É que aquelas vezes que estamos atarefados, realmente ocupados, os planos ficam pra segundo plano, deixam de existir. É por isso que eu queria que a vida fosse mais curta, porque aí todo mundo ia ter vergonha de deixar os sonhos pra depois, aí todo mundo ia querer fazer agora o que realmente tem vontade. É que na maior parte do tempo a gente faz o que tem que fazer e só às vezes o que realmente deseja. Às vezes, essas vezes tão raras...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A auto-cura da violência

Fatos lamentáveis nos levam a crer que chegamos ao ápice da violência humana, mas não, acredite, ela ainda pode nos surpreender e chocar com grande frequência. Os fatos que cito são três em especial: primeiro uma luta de vale-tudo que ganha status de luta do século, segundo a vingança de um aluno estadunidense que sofreu bullyng na frente de uma câmera amadora, terceiro o massacre de um psicopata que dispara contra crianças dentro de uma escola. O que estes casos tem em comum? Por que sempre nos sensibilizam e nos atraem de forma tão singular? E por que, no entanto, se tornam tão banais e corriqueiros ao longo do tempo? Analisando fria e criticamente, lutadores, vingadores e psicopatas são o óbvio resultado de uma sociedade que só tem a capacidade de resolver a violência com a própria violência. E que, além de ser incapaz de resolvê-la de forma pacífica e inteligente, a anseia como diversão.


O primeiro fato que citei é a prova do que acabo de dizer, a luta que valeu o título mundial do UFC e que chamou a atenção de milhões de pessoas no mundo inteiro. O que desejavam tantas pessoas assistindo um combate assim? Nada mais do que a sofisticação da violência, o aperfeiçoamento da capacidade humana de se agredir, de se autodestruir. Uma luta que, é verdade, acabou decepcionando seus espectadores e telespectadores por ter sido rapidamente finalizada por um único golpe perfeito. É claro que todos queriam ver um conflito acirrado, aflitivo e que desse uma verdadeira lição de como arrebentar com um oponente.


O segundo fato contou com um instrumento virtual para ser divulgado e rodar o mundo inteiro, através do Youtube a vingança de um aluno que sofria perseguições na escola se tornou o mais acessado e compartilhado na rede. A violência escolar (que agora atende pelo nome estrangeiro:bullyng) é um fato comum em quase todas as instituições de ensino do mundo e que prejudica o aprendizado de muitas crianças e adolescentes. Como resolver? Não sabemos, mas uma vingança com grande violência pareceu um bom remédio. Não é atoa que o adolescente deste caso virou um verdadeiro “herói” em seu país, diga-se de passagem, a capital universal da violência gratuita.


O terceiro e mais atual caso é a ação de um psicopata, um delinquente desgovernado que propositadamente entra em uma escola e atira contra crianças em seu ambiente de estudo. O lugar que deveria ser o espaço da cidadania por excelência mais uma vez se torna no palco de um massacre sem nenhum tipo de justificativa possível. Mas até que ponto adianta nos debatermos de raiva? Na cidade maravilhosa onde a violência dos morros, causada historicamente pela violência da exclusão, que por sua vez remete a violência da escravidão e exploração e que hoje é combatida com a violência da polícia e do exército, o que significa mais um pouco de violência sem censura?


Já são tantas ações e reações violentas que já não podemos mais identificar os inocentes e os culpados. Eu sinceramente me sinto cúmplice de aberrações como essas, e talvez nós todos sejamos porque nos acostumamos com a violência diária e até esperamos dela a sua auto-cura. Vivemos a cultura da violência, uma cultura que se expressa, inclusive, no nosso desejo de ver o sangue rolar, de vingança e de justiça. É um sentimento de violência curativa, punitiva, vingativa e, no final das contas, quase divertida e satisfatória.

terça-feira, 8 de março de 2011

E a festa não acaba não!

O carnaval não é tempo de festejar, é tempo de exagerar, perder a cabeça e no fim dizer: deixa pra lá, é carnaval! Aliás, o povo brasileiro festeja o ano inteiro e não precisa desta data pra "tirar o pé do chão". Aaahhh... como é bom viver em um país onde a felicidade contagia pela telinha da TV! Obrigado rede Globo por mais um ano de exclusividade na transmissão do "maior espetáculo da terra", que nesse ano contou com a participação ao vivo de brasileiros do exterior, inclusive do Alaska! Sinceramente, me comovi com a alegria espontânea de atrizes e modelos como Gisele Bündchen no alto de um carro alegórico, tenho certeza que ela trabalhou muito no dia-a-dia da escola de samba e desfilou linda sem ganhar um tostão! Na verdade, só fiquei com pena de Ana Hickmann, tão charmosa se estatelando na sapucaí... ossos do ofício de celebridade! Obrigado também rede Bandeirantes e SBT, por mais um ano nos presenteando com os belíssimos hits do carnaval baiano. Afinal, o Superman e a Mulher Maravilha são fortes símbolos da cultura popular nordestina, não é mesmo? Belo esse carnaval baiano, onde o povo local tem o grande prazer de confeccionar os coloridos abadás para que turistas de todo o mundo desfrutem de tanta alegria. Mas, cá pra nós, o melhor de tudo é saber que em Brasília a folia da lugar à racionalidade e empenho de nossos políticos nada foliões. Que é isso meu povo, sejamos mais otimistas, eu mesmo já não tenho dúvidas que desse jeito vamos ganhar fácil fácil por muitos e muitos anos o nobre título de "o povo mais feliz do mundo"!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Qual o valor da democracia?

Não é de hoje que se houve falar em democracia, é claro que não, ela foi idealizada e praticada já nos tempos de Epicuro, Sócrates e Platão, lá na Grécia Antiga. Já no Brasil, sua história é muito recente, talvez 25 anos, ou menos. O certo é que ainda hoje estamos vivendo o processo de sua consolidação, visto que não são raras certas forças antidemocráticas em nosso atual sistema. Para citar um simples exemplo deste problema é só refletirmos sobre o próprio sistema capitalista, antidemocrático por excelência. Até onde vai a nossa possibilidade de participação política no capitalismo? Tendo em vista as relações intrínsecas entre política e economia, como podemos nos sentir livres e plenamente cidadãos se bancos e todo o tipo de grandes empresas que nos afetam diariamente não são geridas por representantes populares? Empresas e empresários representam a si mesmos e usam a representação política para se beneficiar na estrutura legal. É dessa forma que esta camada social contribui para a manutenção da desigualdade que exclui as possibilidades sociais de milhões de pessoas.
A verdade é que na democracia ninguém é puxado pelo braço para participar das decisões, se você não se envolve alguém decide por você. Nesse caso, provavelmente será muito mal representado e terá aceitar aquilo que foi “democraticamente” decidido. A democracia exige uma educação específica para que a participação popular efetive o seu poder de alcance. Não viveremos numa sociedade igualitária enquanto poucos cobrarem a sua transformação, o que querem os poderosos é que os principais interessados na mudança permaneçam anestesiados, descrentes com a política e preconceituosos quanto a um engajamento mais ativo e crítico. Este, que não necessariamente está ligado aos partidos políticos, é fruto de uma conscientização e sua consequente mobilização dentro da sociedade, seja ela por meio de atividades artísticas ou manifestações solidárias com o meio ambiente. O fato é que se não nos envolvermos em qualquer tipo de intervenção social nossa cidadania continuará sendo seriamente ameaçada e a democracia vai continuar sendo uma longínqua utopia. Portanto, sejamos nós, cidadãos de fato, o grande valor da democracia.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011