sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um pobre coitado

Com o controle remoto na mão
Ele se sente forte e poderoso
Mas o pobre coitado não sabe
Que está num círculo vicioso

Apertando pra cima e pra baixo
Ele se sente livre na programação
Mas o pobre coitado não sabe
Que está preso na televisão

Uma vez dormiu e não desligou
A televisão, ligada permaneceu
Foi então que num pesadelo
A sua alma se perdeu

O pobre coitado agora procura
A sua alma que foi roubada
Apertando pra cima e pra baixo
Com sua mente televiciada



sábado, 7 de agosto de 2010

A abismaticidade do ser

Abismático é aquele que vive o abismo, que olha o abismo e é olhado por ele. Vivê-lo é ansiá-lo. Olhá-lo é ser engolido. Nunca se sabe o que há no fundo do abismo. A imaginação, e só ela, é a porta pela qual a abismaticidade se constrói. Construção essa que não se sustenta, cai, desaba sobre a própria existência. Existir é abismar-se, abismar-se é maravilhar-se ante a profundidade imensa e infinita da vida. Sentir o vento enquanto desmorona-se, sentir a materialidade da não sustentação. Vir a ser é tão simplesmente se deixar engolir, o abismo vive e se alimenta das almas que nele se depositam. É preciso sentir também a escuridão, enxergar a beleza da não iluminação. A falta de luz, quem nunca sentiu prazer ao fechar os olhos? Revela-se aí a primeira forma de abismo. Cair lentamente é a pura perfeição. Portanto, simplesmente solte o peso e assim desmaterialize-se completamente sobre o nada e junte-se a ele.