A arte precisa ser autônoma, precisa renovar-se sempre a partir da cultura em que está inserida. O problema do mercado influenciar a produção da arte é que ocorre uma padronização muito grande, um movimento que não respeita especificidades e diversidades culturais. Um autor chamado Canclini diz que "A internacionalização do mercado artístico está cada vez mais associada à transnacionalização e concentração geral do capital". A essa subordinação da arte pelo capital se soma a cultura nacional de que "o importado é melhor" fazendo com que mídia e academia optem por reproduzir no Brasil modelos externos. É o velho complexo de inferioridade latino-americano. No entanto, eu acredito que hoje estamos valorizando mais a arte nacional, principalmente as tradicionais do povo. É claro que nos museus de arte contemporânea e arte "culta", a arte popular não entra, por isso são lugares cada vez menos atrativos ao contrário das próprias periferias. Eu acredito que a verdadeira arte hoje seja aquela produzida nas zonas marginais, precisamos reconhecer isso, pois a arte, como dito, deve ter autonomia criativa e não ser cópia do importado. Somos brasileiros ou ainda somos colonizados? Precisamos de uma arte com identidade, chega de engolir enlatados! Que eu não seja interpretado como defensor do nacionalismo, este não é o caminho. Defendo a possibilidade de que grupos sociais tenham possibilidades materiais e espirituais de potencializar suas tradições. Sem ser tradicionalista também, mas que a partir dessas culturas se criem respostas ao modelo egoísta-capitalista. O Brasil é uma imensa colcha de retalhos, mas a mídia quer que sejamos uma única palavra. Olhemos para a periferia, ali estão as novas possibilidades. Ali se encontra uma beleza diferente daquela que está nas capas de revista, precisamos recusar o pronto, o óbvio. Pensar a arte para além do consumo. Pensar a arte como um direito inalienável. Mais do que isso, pensá-la como um dever: é dever de todo cidadão ser artista!
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Pensando a arte
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Corpos de argila
Ser é viver em meio a outros, é estar em contato com a vida que existe também naqueles que estão ao lado. Existir não é possível sem o reconhecimento e a consideração dos que estão próximos, pois a vida não se realiza apenas com a materialização do corpo, mas sim a partir das muitas formas de interação. Para interagir, temos nossos sentidos que, se bem desenvolvidos, são capazes de não só gerar sensações, mas também alegrias e prazeres. Concordemos que a vida é uma dádiva, um presente da natureza, é preciso estar ciente disso e efetivamente valorizar esta oportunidade. Mas sem reflexões vazias e pseudo-poéticas, nossa intenção aqui é de fato percebermos que não se vive a partir do eu, mas do nós. Assim, podemos observar que o ato de não notar o outro é não notar a si mesmo, e a questão é que não devemos apenas notar como também desejar sua presença e seus ensinamentos. Não existe corpo vivo que não carregue ensinamentos, todos nós somos livros de infinitos aprendizados e lições. Aprender, eis a grande beleza da vida, é onde mora a possibilidade de uma incessante transformação.

Os aprendizes? São todos aqueles que estão dispostos a transformarem-se, eles possuem corpos de argila. Porém, é necessário estar atento, pois nossos corpos muitas vezes se tornam em peças inertes guardadas em pacotes. A formalidade, as condutas mecânicas do cotidiano, a vontade de corresponder ao que esperam de nós, tudo isso são coisas que nos envolvem de insensibilidade e assim nos impedem de estar prontos ao conhecimento. Um autêntico corpo de argila é aquele que se encontra natural, em estado pleno de construção, é onde se moldam sempre novas ideias, novas atitudes, novas vontades e desejos. Para que fique bem claro, ter um corpo de argila não é estar suscetível à manipulação deliberada do outro, mas sim aberto às suas contribuições que muitas vezes são involuntárias. Quando negligenciamos a capacidade de aprender e de nos transformar, esta argila seca e pode vir a se quebrar. Manter nossa argila úmida, cuidar para que não seja moldada de forma arbitrária, é assim que devemos estar para encarar com sabedoria os caminhos que virão.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
HAY QUE DESEAR

Publicado na revista "Siete Borreguitos" de circulação livre em Buenos Aires, Argentina. Novembro/2011.
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