sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Drogados de poder

Quando falamos sobre drogas, geralmente o que nos vem à cabeça são tipos estereotipados como maconheiros lesados, ou quem sabe aqueles alucinados com o nariz branco, ou até mesmo fritos mordendo garrafas plásticas com os olhos esbugalhados ao som do trance. Nossa visão sobre o tema parece reduzir-se a situações onde o “drogado” é sempre alguém que consumiu alguma substância para atingir este estado anormal da consciência e de prazer momentâneo. O que poucas vezes percebemos é que não são apenas essas tais substâncias psicoativas ou alucinógenas que tem o poder de gerar níveis de prazer e alegria artificiais e, principalmente, viciantes. Observando a forma como políticos e jogadores de futebol se portam diante de situações de adrenalina, podemos perceber o quanto o poder – no sentido de autoridade, influência, soberania – é capaz de transformar as pessoas.

Observe bem um jogador após marcar um gol diante de um estádio lotado e de dezenas de câmeras, observe como esta injeção de alegria o transforma no ato da comemoração. Até mesmo para quem joga futebol de quarta na quadra do bairro sabe o quanto é saborosa aquela dose de endorfina no sangue, imagine um jogador celebridade, ídolo de milhões. Talvez seja por isso que muitos jogadores entrem em depressão profunda ao aposentarem-se, ou também porque em alguns casos substituem esse antigo poder por drogas químicas. A ausência daquela sensação de poder e influência sobre as pessoas através do esporte e do desempenho do próprio corpo pode causar séria abstinência.

Algo parecido podemos perceber na conduta de políticos, principalmente quando o entusiasmo do discurso se faz presente. São senhores e senhoras suando em bicas, com os olhos esbugalhados, gesticulando acrobaticamente na sede de encontrar as palavras certas em seus arcabouços retóricos. É comum, em todas as esferas de poder, vermos senhores sedentos se agarrarem aos seus tronos com a mesma força que um viciado em crack segura seu cachimbo. É comum vermos atos de desespero público por conta da corrida ao posto desejado, leia-se a corrida presidencial e a forma com que seus postulantes se postam diante de debates e discursos. O poder político talvez seja a droga mais fortemente desejada e, por isso, a mais segregada de todas.

Essa é a droga do poder, seja político, acadêmico, artístico ou na comum versão celebridade do esporte, o que querem é sempre estarem diante de platéias e aplausos, cumprimentos e aprovações. Ser um poderoso, eis a busca de qualquer drogado. Atingir níveis sobre humanos de prazer e plenitude, quase nada os diferencia. Qual seria então a diferença de drogados e poderosos? Tentem responder, mas tenham cuidado, o poder seduz... e vicia!

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