quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sensacionalismo nosso de cada dia


A grande mídia tem uma capacidade ímpar de criar emoções e tensões mais do que desnecessárias na população. Em nossa experiência recente temos alguns casos e acontecimentos transformados em verdadeiras epopéias midiáticas. Adolescentes parricidas, casais que lançam criancinhas, jogadores que estripam prostitutas... O que estes casos tem em comum? Por que chamam tanta atenção?

Algo se pode tirar de acontecimentos como estes: somos uma sociedade doente. A prova é que além de estarmos sujeitos a presenciarmos novos crimes como estes, é que também temos um curioso interesse em acompanhá-los. A realidade, bem mais do que a ficção do cinema, tem um sabor especial. Saber que não estamos julgando um personagem de novela, e sim um cidadão de carne e osso como nós, nos faz mais vivos, mais plenos. Há no sensacionalismo a realização do cultural desejo de vingança, desejo este que advém do nosso ressentimento, de nossas angústias enquanto seres ditos civilizados. Além disso, é que como um povo cristão, temos a necessidade de nos vingar de nós mesmos, afinal, somos o próprio pecado.

O sensacionalismo, dessa forma, pretende e consegue criar perfeitos bodes expiatórios para que possamos descontar toda essa nossa carga de maus sentimentos. Por estes reais personagens, incansavelmente expostos pela grande mídia, temos uma visão privilegiada do que somos capazes enquanto seres humanos. Talvez daí nasçam o nosso espírito vingativo e essa nossa curiosidade mórbida por fatos tão repugnantes quanto pouco importantes.

Um comentário:

Guilherme S. Zufelato disse...

Salve Vinícius!

Seu texto me lembrou a seguinte frase, retirada do livro "The philosophy of Andy Warhol":

[...] eu sempre suspeitei que estava assistindo televisão ao invés de viver a vida. Às vezes as pessoas dizem que o modo pelo qual as coisas acontecem nos filmes é irreal, mas, na verdade, é o modo pelo qual as coisas acontecem com você na vida que é irreal. Os filme fazem parecer as emoções tão fortes e reais, ao passo que quando as coisas acontecem realmente com você, é como assistir televisão - você não sente nada.

Parabéns pelo blog... Acompanharei!
Um grande abraço,
Guilherme